Conheça os segredos de uma engenheira de produção que
abandonou a profissão para construir uma carreira sólida e
muito feliz no artesanato
Por Cynthia Marafanti l
Fotos Mônica Antunes
Poucas
pessoas têm a coragem de
mudar de profissão aos 40 e poucos
anos e partir em busca de sua felicidade. Luciana Pumputis é uma dessas exceções
que, com determinação e talento, encarou o desafio de recomeçar não só uma nova
carreira, mas também sua vida pessoal. A aposta garantiu parte de sua
independência financeira e sucesso como uma das artesãs mais admiradas quando o
assunto é patchwork.
Com a maestria de quem viveu fracassos e sucessos,
sacudiu a poeira e soube fazer finais felizes, ela nos recebeu em seu
ateliê, em São Paulo, para um bate-papo para lá de agradável. O
espaço aconchegante, todo decorado com patch, revela o talento de Luciana por
criar artigos de moda e decoração usando retalhos de tecido. “Aqui é um cantinho
especial, onde faço
oficinas de artesanato,
além de criar as minhas próprias coleções”, revela.
Diante de trabalhos
tão perfeitos e uma rotina atribulada com compromissos que envolvem encomendas
particulares, aulas em dois ateliês e reuniões com patrocinadores, além de
exposições em feiras do setor, até parece que Luciana sempre esteve nesse ramo,
não é mesmo?
Mas a trajetória da artesã começou de um jeito peculiar. Desde
criança ela pintava, bordava e fazia tricô, que aprendeu com a avó. Aos 15 anos,
ganhou uma máquina de costura (que ela guarda com muito carinho até hoje), fez
curso de corte e costura e costumava fazer roupinhas de boneca. Aos 20 e poucos
anos, ainda moça, casada e graduada em engenharia de produção, dedicou sete anos
à sua área de formação. Mas, como diz o ditado, a vida é a arte dos
encontros.
Pois bem, Luciana “topou com uma amiga, que também não estava
muito satisfeita com o rumo de sua vida profissional” e encorajou-se a ir atrás
de uma atividade que realmente a fizesse feliz. Assim, juntas, abriram um bufê.
A sociedade durou três anos porque, como ela mesma diz, “aquele negócio não era
pra mim”. Persistente, Luciana partiu para uma nova experiência: foi trabalhar
no comércio de roupas da mãe. “Fiquei sete anos na administração da loja, mas
adorava mesmo era montar as vitrines, tanto que eu fiz um curso de vitrinista”.
Reviravolta
Nesse
contexto, já com dois filhos pequenos e um casamento instável, o destino aplicou
outro revés na vida dessa mulher tenaz. “Os meus pais precisaram se mudar para
outra cidade, fecharam a loja e as coisas em casa ficaram cada vez mais
complicadas. Para ocupar o tempo e encontrar o equilíbrio que precisava para
manter a família em ordem, eu voltei a fazer
artesanato. Criava
caixinhas lindas com pintura country. Minhas amigas amavam!”.
O
casamento não resistiu à crise e ela não quis depender da pensão de seu
ex-marido. Arregaçou as mangas, driblou as dificuldades e, mais uma vez, partiu
para um novo e promissor recomeço. “Aos 40 anos, divorciada e com dois filhos,
me vi com pouquíssimas possibilidades profissionais. Então, pensei: o que eu
gosto de fazer?” A resposta óbvia foi as
artes manuais, que
sempre estiveram presentes em sua vida como uma atividade coadjuvante, mas que
agora seria a protagonista de uma história de superação.
O caminho foi
longo, porém Luciana conseguiu superar os obstáculos, fez parcerias com diversas
lojas de arte, ministrando cursos e oficinas, até que em janeiro deste ano,
junto com a sua ex-aluna Alessandra Lima, montou o seu próprio
ateliê. O espaço é puro capricho e traduz com delicadeza o amor
que a artesã coloca em cada detalhe do espaço. Para se ter ideia, até mesmo os
espelhos de tomada são revestidos com tecido. Na parede, um relógio
personalizado chama a atenção, isso sem falar das bolsas, carteiras e
bonecas de pano que decoram cada cantinho. Seis máquinas de costura, incluindo
uma Singer canadense que ela herdou da avó, dão o toque
final.
Arte para sentir
A
inspiração para criar os belos trabalhos Luciana garante que vem do olhar.
“Folheando uma revista, caminhando pela rua, tudo o que eu vejo e gosto penso em
como reproduzir do meu jeito, com algum detalhe específico. Às vezes, um projeto
fica meses sendo amadurecido em minha mente, até que encontro um ponto de
partida e dou forma ao que não passava de uma simples ideia”, conta ela, que já
é considerada referência no mercado, como uma das profissionais mais preparadas
do Brasil.
O
reconhecimento é notório, mas será que hoje, aos 49 anos e um extenso currículo
comprovado nas páginas de revistas do segmento, ela já conquistou os seus
objetivos? A resposta vem de pronto: “Eu me sinto muito feliz e realizada com o
que eu tenho, mas é claro que ainda tenho planos para o futuro. A minha meta é
aumentar o
ateliê e expandir o calendário de aulas,
conquistando 100% da minha independência financeira”.
Agora, você deve
estar se peguntando: de onde vem tanta habilidade? É verdade que Luciana sempre
levou jeito com
artesanato. Pintava, bordava e criava trabalhos
incríveis, o que comprova o seu talento para as artes. No entanto, a artesã é
uma profissional consciente de que é preciso trocar ideias e renovar
conhecimento.
Assim, frequentou diversos cursos, como confecção de
bonecas, patchwork e até mesmo empreendedorismo no Sebrae, a fim de promover a
criatividade. “Estudar é ótimo, você aprende a trabalhar com outros materiais e
fica sempre antenada. Eu adoro!”
Artesanato
como profissão
Muita gente busca no artesanato uma saída para
dizer adeus ao chefe e conquistar seu próprio negócio. A ideia é boa, mas na
prática é necessário levar em consideração alguns aspectos não tão simples
assim. Experiente, Luciana alerta: “Muitas alunas fazem cursos e pensam em ‘se
jogar’ com tudo nesse mercado. Mas vale lembrar que é um trabalho, tem de ter
responsabilidade e encarar a profissão com seriedade, cumprir prazos e
reinventar suas coleções para garantir a perenidade dos seus
negócios”.
Agora, se a dúvida é sobre qual técnica investir, fique atento. De
acordo com Luciana, o futuro do artesanato está na art décor. Prova disso são as
peças bem feitas, com acabamento impecável, expostas em mostras como a Casa Mega
Faça Fácil, que aconteceu na última Mega Artesanal, em São Paulo (SP).